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Dom Vital e o nascimento da Militância Católica Brasileira

"Frei Dom Vital Maria Gonçalves de Oliveira, (1844-1878) designado por Dom Pedro II, para ser bispo de Olinda, no dia 21 de maio de 1871, aos 26 anos, foi o primeiro bispo capuchinho do Brasil.

Desde a independência assistiu-se no Brasil a uma proliferação da Maçonaria e de seus principais ideais, o do Liberalismo do Estado Laico e de uma Igreja Nacional independente do Papa.


Em oposição a isso, na Europa e no Brasil a partir de 1860 surgiram os Ultramontanos, esse movimento liderado pelo papa Pio IX envolveu todo o clero contra o movimento liberal.


Já há longo tempo a Igreja vem lutando contra a Maçonaria, uma luta sem tréguas: Os sucessores de São Pedro, desde Clemente XII, não suportam os maçons com suas idéias libertárias, com suas lojas, seu rito e a força misteriosa que os une e o Bispo Dom Vital foi o inimigo mais sério e corajoso que a Maçonaria teve de enfrentar no Brasil.

Para o Imperador Dom Pedro II o Bispo Dom Vital foi tido como o principal inimigo da Constituição por ter entrado em conflito com a Maçonaria, na época liderada pelo Visconde do Rio Branco, ao ordenar a excomunhão de todos os maçons das Irmandades Católicas cumprindo a Bula Syllabus do Papa Pio IX, que proibia a permanência de membros da maçonaria nos quadros da Igreja Católica. O que provocou sua prisão em 1874 pois a Bula não havia sido aprovada pelo Estado Brasileiro.


O Bispo de Olinda foi então o primeiro a ser condenado a Prisão pelo Supremo Tribunal de Justiça no Brasil


Durante muito tempo Dom Vital foi o modelo ideal do sacerdote católico. Era forte, viril, destemoroso. Possuía as qualidades mestras de um religioso capaz de tudo sofrer pela sua Fé. Sua figura física, além dos atributos morais, impunha-se pela decisão, pela coragem pernambucana de afirmar, pelo desprendimento. Desde a juventude, conforme o testemunho de Carneiro Vilela, seu colega de colégio e, mais tarde, seu tenaz adversário, Antônio Gonçalves, o futuro Dom Vital, manifestava a sua intensa vocação religiosa através de uma piedade e de uma circunspecção raras na sua idade.


À medida que o tempo passou, a figura do Bispo de Olinda projetou-se na memória das gerações. As antigas famílias sempre pretenderam ter um padre como representante da sua fé e como uma prova da sua fidelidade. O padre e o bacharel eram os mais representativos de uma família patriarcal: - um era a Igreja, o outro era a Lei, o Direito, a jurisprudência, a garantia do equilíbrio social. Depois da morte de Dom Vital, o padre ideal era ele.


A luta teve início no Rio de Janeiro, quando o padre P. Almeida Martins foi punido pelo arcebispo por ter participado de uma homenagem que a Maçonaria prestara ao seu grão-mestre, o visconde do Rio Branco, então ministro, chefe do gabinete da Lei do Ventre Livre. O padre não se conteve e também fez discurso. O clero não gostou da atitude do vigario e agiu contra êle, suspendendo-lhe as funções eclesiásticas.

No tempo desses acontecimentos d. Frei Vital já era morador do Palácio da Soledade. Os maçons de todo o país não apreciaram as medidas impostas contra o padre doubló de maçom, pois desencadearam pela imprensa cerrada campanha contra a atitude do arcebispo do Rio de Janeiro. Declaravam os mais exaltados que era "Missão do Brasil destruir o Papa e sua Igreja."


Os jornais de Recife também fizeram coro, e dentro de pouco tempo a pessoa de d. Frei Vital era diretamente citada. Estava aberto o conflito, cedo a tempestade desabaria. Dom Vital mais tarde declarou que se a Maçonaria tivesse permanecido discreta dentro de suas lojas, a Questão Religiosa jamais teria ocorrido.

O Bispo de Olinda então pública uma série de artigos na imprensa condenando a infiltração da Maçonaria e de sua doutrina dentro a Igreja Católica no Brasil. A Reação do Imperador Dom Pedro II foi incomum, sua atitude de tolerância diante de ideias contrárias a sua desaparece frente as declarações do jovem Bispo, sentiu que sua própria autoridade como chefe de estado havia sido ameaçada.


Segundo Gilberto Freyre "A Dom Pedro II faltou mais de uma vez a noção das necessidades de ser brasileiramente tradicionalista contra os excessos burguesmente progressistas da época. D. Frei Vital Maria Gonçalves de Oliveira - esse sim, com alguma coisa de Imperador do Divino para os olhos do povo. Em volta do roxo de sua murça, titulares e conselheiros do Império ficam por um instante quase do tamanho de titulares e conselheiros de Eça.


Antes de se tornar brasileiramente mártir, seu vulto é o de um herói. Um Dom Quixote vestido de capuchinho". A imagem é realmente perfeita: medem-se durante a Questão Religiosa dois Imperadores que encarnam duas religiões a religião do Estado, na pessoa de Dom Pedro II, e a religião do povo, a devoção simples e tradicional, que está na formação do povo brasileiro, desde a catequese jesuítica, representada por Dom Frei Vital.


Era natural, até certo ponto, a confusão dos próprios católicos, quando os Bispos de Olinda e do Pará se levantaram em desobediência ao Conselho de Estado, para respeitar a ortodoxia da Igreja e a doutrina pontificia. O clima de acomodação não permitia essa espécie de rebeldia eclesiástica. Rebeldia que não era insubmissão ao governo, cuja autoridade civil jamais pretenderam atingir.


Popular ficou a bravura do Bispo, na Questão Religiosa, que o envolveu todo inteiro: Até em maços de cigarro aparecia o seu nome. Como aparece hoje para batizar empresas rodoviárias. E mesmo para dar nome a outras coisas, ligadas ao povo, uma vez que ele foi apesar de homem de elite homem do povo, andando a pé, sozinho, pelas ruas do Recife, passando quase diariamente pela casa do pai de Oliveira Lima, que é hoje sede do Conselho Estadual de Cultura de Pernambuco.

Acontece que a minoria maçônica era ativista e combateu o Bispo de peito aberto. Além disso, como acentua Vamireh Chacon, era uma maçonaria palaciana, isto é, poderosa, acobertada pelo Visconde do Rio Branco, cuja interferência na Questão Religiosa não teria chegado ao ponto que chegou se não fora o regalismo de Dom Pedro II.


Os juizes formaram doutrina e daí não transigiram . O bispo não tinha razão, diziam eles, era perigoso à ordem e à segurança do Estado. . Deveria por isso pagar pelo seu erro. D. Vital foi recolhido à fortaleza de S. João. Nada de trabalhos forçados, porque o Imperador comutara a pena para prisão simples. Quando subiu o gabinete Caxias em 1875, os bispos obtiveram anistia Estava encerrada a primeira fase da questão religiosa.


Em liberdade, d. Vital deixou o Brasil e foi a Roma. Falou com o Papa e, de viva voz, relatou os acontecimentos que viveu tão intensamente. O Sumo Pontífice tratou-o carinhosamente, como um pai faz a um filho querido.


Abraçou-o e admirou-se de sua idade. Afirmam mesmo que o Santo Padre dissera aos fatos do Brasil: "Agora compreendo, éreis tão moço, meu filho!". D. Vital ainda voltou à pátria; depois retornou à Europa para nunca mais regressar. Morreu na França com a idade de trinta e três anos. Para os católicos sensíveis êle foi o santo mártir da Igreja do Brasil.


A Questão Religiosa foi uma luta incessante, que a República venceu, separando a Igreja do Estado. Era essa a doutrina de Ruy Barbosa, ao que se diz apoiado por Dom Macedo Costa, companheiro de lutas e de prisão de Dom Vital, que sentiu na própria pele a falsidade do preceito constitucional, que fez do Catolicismo a religião oficial do Império. Longe de ser uma derrota da Igreja, foi uma vitória. A ausência da tutela do poder temporal deu-lhe liberdade de ação."


Centenário de Dom Vital. Por RAYMUNDO de ATHAYDE (Espacial para a REVISTA DA SEMANA) 1944

GILBERTO FREVRE E DOM VITAL Nilo Pereira Historiador

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