top of page

Pe.Juniper B. Carol sobre Duns Scotus e a Imaculada conceição - trecho de livro

Tradução feita por Jefferson Santos

Do livro: Mariology. Vol.1, do Juniper B. Carol



É uma das grandes glórias da Ordem Franciscana ter produzido o Doutor Sutil, João Duns Scotus (1270-1308), cuja defesa vigorosa e brilhante clarificação da verdade da Imaculada Conceição preparou o caminho para sua definição final. Ele mostrou que as razões para a santificação da pessoa de Maria após a animação eram possíveis e adequadas, e que "após" a animação na realidade significa apenas que a santificação seguiu a infusão da alma de Maria na ordem da natureza, mas não na ordem do tempo. Ou seja, a libertação de Maria da mancha do pecado exigia, como pré-condição necessária, a criação e infusão de sua alma, mas, em termos de tempo, a santificação e a animação eram simultâneas. Scotus elevou o argumento ao nível onde somente a doutrina da Imaculada Conceição poderia ser formulada adequadamente e aceita teologicamente (e filosoficamente) por todos.175 Sua distinção entre prioridade no tempo e prioridade na natureza cuidou adequadamente da objeção de São Bernardo.176


A objeção contra a imunidade de Maria do pecado original, com base na universalidade de sua mancha, conforme afirmado por São Paulo em Rom. 5:12: "Portanto, assim como por um só homem o pecado entrou no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram", e a consequente universalidade da Redenção de Cristo, ofereceu o maior obstáculo à aceitação da Imaculada Conceição.177 O cerne da resposta de Scotus a essa dificuldade clássica consiste no desenvolvimento do papel de Cristo como Mediador perfeito e Redentor perfeito, e, portanto, seria adequado a Ele preservar Sua Mãe da mancha de todo pecado, não apenas de todo pecado atual, mas também do pecado original. Negar isso, ensinou Scotus, seria diminuir a excelência de Cristo. De fato, em virtude da Encarnação e Redenção, era ainda mais adequado que os méritos de Cristo preservassem Sua Mãe do pecado original do que do pecado atual, pois foi especialmente para expiar o primeiro que o Salvador suportou Sua Paixão.178 Portanto, Cristo redimiu Sua Mãe por redenção preservadora, não por redenção restauradora, como no caso do restante da humanidade.179 Além disso, Cristo, e não Adão, é a cabeça moral e espiritual da raça humana, pois Ele é a fonte de toda sua graça. Por causa do pecado de Adão, a humanidade ficou sujeita ao poder de Satanás, com exceção de Maria. Ela não estava sujeita ao diabo, pois Deus já havia decretado, de acordo com Scotus, que a Palavra se tornasse carne através de Maria, e, portanto, como Cristo foi decretado antes de Adão, deve-se seguir que Maria foi incluída no mesmo decreto que seu Filho.180 Embora Scotus não tenha ensinado explicitamente a predestinação de Maria antes da previsão do pecado de Adão, essa doutrina parece seguir de sua teoria sobre a predestinação absoluta de Cristo.181


É claro que Duns Scotus ensinou que a Santíssima Virgem teve sua origem a partir da semente carnal de Adão como sua filha natural e, portanto, teria contraído o pecado original se não fosse preservada pelos méritos previstos de seu divino Filho.182 E Scotus acreditava que seria um tributo muito maior ao poder, sabedoria e bondade de Deus preservar Sua Mãe de todo pecado, incluindo o pecado original, em vez de apenas curá-la dele. "Ou Deus podia fazer isso e não quis, ou quis preservá-la e foi incapaz de fazê-lo. Se fosse capaz, mas não quisesse fazer isso por ela, Deus teria sido mesquinho com ela. E se Ele quisesse fazer isso, mas não fosse capaz de realizá-lo, Ele seria fraco, pois ninguém que é capaz de honrar sua mãe deixaria de fazê-lo."183 Como a mais perfeita de todas as criaturas meramente humanas, a Mãe de Deus deveria ter recebido a redenção mais perfeita por meio da graça: uma redenção que a preservou, não uma que a curou apenas.


Embora os grandes Doutores Franciscanos anteriores a Scotus, São Boaventura184 e Santo Antônio,185 não tenham admitido, pelo menos claramente, a doutrina da liberdade de Maria do pecado original, a Escola Franciscana após Scotus defendeu a doutrina ainda mais enfaticamente do que ele.186 Até a primeira metade do século XVI, os Dominicanos continuaram se opondo à doutrina.187


Notas (sem tradução =) ): 175 Cf. Emile Campana, op. cit ., p. 232.

176 Hugolinus Storff, O.F.M., The Immaculate Conception (San Francisco, 1925), p. 21.

177 Cf. D. J. Kennedy, op. cit., p. 90.

178 Cf. Carolus Balic, O.F.M., De dehito peccati originalis in B. Virgine Maria (Romae, 1941), p. 88 ff.; Joannis Duns Scotus, Theologiae Marianae Elementa, in Bibliotheca Mariana, ed. Carolus Balic, O.F.M. (Sibenici, 1933), P* 190; Scotus, Quaestiones Disputatae de hnmacidata Conceptione (Ad Claras Aquas, 1904), pp. 12-22.

179 Cf. Scotus (ed. Balid), p- 192: “Nobilius autem est praeservare ne offendat quis quam post offensam remittere.”

180 Cf. Hugolinus Storff, O.F.M., op. cit., p. 179 ff.

181 N. G. da S. Marcello, O.F.M., L’lmmacolata ed il Verbo Umanato (Ad Claras Aquas, 1904), 'passim ; Ephrem Longpre, O.F.M., Exposition du Dogme de Vlmmaculee-Conception, in Deuxieme Congres Marial National (Lourdes, 1930), p. 80.

182 Cf. Carolus Balic, O.F.M., op. cit., p. 99.

183 Cf. Sebastianus Dupasquier, op. cit., pp. 243-244: “Aut Deus potuit, et noluit, aut voluit, et non potuit praeservare illam ab originali, si potuit, et noluit, ergo avarus in earn fuit, si voluit, et non potuit, infirmus fuit, certe nullus est, qui possit honorare matrem, et nolit.”

184 Cf. Emmanuel Chiettini, O.F.M., Mariologia S. Bonaventurae, in Bibliotheca Mariana Medii Aevi (Romae, 1941), p. 145 ff.

185 Cf. Caietanus Stano, O.F.M.Conv., De mente S. Antonii Patavini quoad Imm. Conceptionem B. V. Mariae, in Miscellanea Francescana, Vol. 40 (Roma, 1940), p. 18; Candidus Romerii, O.F.M., De Immaculata Conceptione Virginis apud S. Antonium (Romae, 1939), p. 78; Diomede Scaramuzzi, O.F.M., La dottrina teologica di S. Antonio di Padova (Roma, 1933), pp. 30-39.

186 Cf. P. Pauwels, O.F.M., Les Franciscains et L'lmmaculee Conception (Malines, 1904), p. 9 ff.; Jerome de Paris, O.F.M.Cap., La doctrine mariale de Saint Laurent de Brindes (Paris, 1933), pp. 61-74.

187 Cf. M. J. Scbeeben, op. cit., p. 108.

Comentários


© Copyright. Todos os direitos reservados - Ação Orleanista - Desenvolvido pelo setor de Propaganda e Marketing da Ação Orleanista

bottom of page