Padre Cícero: O Apóstolo de Juazeiro
- Daniel Jorge Marques
- 4 de ago. de 2023
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Cícero Romão Batista (1844-1934), o Padre Cícero, foi matriculado no colégio do renomado padre Inácio de Sousa Rolim, em Cajazeiras, na Paraíba. Aí pouco demorou, pois a inesperada morte de seu pai, vítima de cólera em 1862, obrigou-o a interromper os estudos e voltar para junto da mãe e das irmãs solteiras.
A perda do pai trouxe graves problemas financeiros à família. Em 1865, aos 21 anos, entrou no seminário em Fortaleza.
Padre Cícero foi ordenado no dia 30 de novembro de 1870, com 26 anos. Voltou para Crato, à espera de uma paróquia para liderar. Nesse tempo, lecionou Latim no Colégio local.
Em sua incansável atividade pastoral, pregava, aconselhava, dava confissões e visitava a comunidade. Nesse período ocorreu a grande seca no Nordeste brasileiro (1877-1879). Em breve conquistou a simpatia do povo, liderando a comunidade e moralizando os costumes, como os excessos de bebedeira e a prostituição. Sua obra se expandiu e padre Cícero precisou recrutar mulheres solteiras e viúvas, organizando e exercendo sua autoridade sobre uma irmandade leiga, formada por beatas, que o ajudava nas atividades pastorais.
Padre Cícero foi o maior benfeitor e a figura mais importante da Cidade de Juazeiro. Ele a fez crescer transformando-a na mais importante do interior do Ceará.
Líder espiritual e político do que hoje é o município Juazeiro do Norte, no interior do Ceará, Padre Cícero é autor de polêmico milagre - quando a hóstia que consagrou virou sangue na boca da beata Maria de Araújo, em 1889. O sacerdote pediu que se formasse uma comissão de padres e profissionais de saúde para investigar o acontecimento, e eles não encontraram uma explicação natural para o caso. Outra comissão foi formada e o fenômeno foi considerado uma farsa. Padre Cícero teve suas ordens sacerdotais suspendidas.
Mas a devoção do povo ao religioso só aumentou. A população o declarava santo, visitantes vinham em romarias para ver o milagre de perto. O povoado foi crescendo, até que, em 1911, foi elevado à categoria de município, chamado Joaseiro.
Primeiro prefeito do recém-formado município, Padre Cícero aliou-se a políticos e oligarcas. Com outros 16 políticos, ele firmou acordo de cooperação mútua com o compromisso de apoiar o então governador, Nogueira Accioli. O encontro recebeu a alcunha de Pacto dos Coronéis e é considerado importante acontecimento do coronelismo brasileiro.
Proprietário de terras, de gado e de diversos imóveis, Cícero fazia parte da sociedade e da política conservadora do sertão do Cariri. Sempre teve o médico Floro Bartolomeu como o seu braço direito, e integrava o sistema político cearense, que ficou sob o controle da família Accioli durante mais de duas décadas.
Em 1913, foi destituído do cargo pelo governador Marcos Franco Rabelo, voltando ao poder em 1914, quando Franco Rabelo foi deposto no evento que ficou conhecido como Sedição de Juazeiro. Foi eleito, ainda, vice-governador do Ceará, no Governo do General Benjamin Liberato Barroso.
Ao fim da década de 1920, Padre Cícero começou a perder a sua força política, que praticamente acabou depois da Revolução de 1930. Seu prestígio como santo milagreiro, porém, aumentaria cada vez mais.
O padre Cícero morreu em Juazeiro do Norte em 20 de julho de 1934, aos 90 anos, encontrando-se sepultado na Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, na mesma cidade.
Apesar de algumas tentativas acadêmicas de relacioná-lo ao comunismo e, mais tarde, com a Teologia da Libertação, o padre Cícero Romão era profundamente anticomunista e apegava-se à doutrina católica para justificar sua posição. Numa entrevista concedida em 1931, afirmou: "O comunismo foi fundado pelo Demônio. Lucífer é o seu nome e a disseminação de sua doutrina é a guerra do diabo contra Deus. Conheço o comunismo e sei que é diabólico. É a continuação da guerra dos anjos maus contra o Criador e seus filhos"
Padim!!!
Será canonizado???