O Sagrado Coração e a Monarquia
- Frederic Montanha
- 16 de jun. de 2023
- 3 min de leitura

O Sagrado Coração é uma devoção ao coração de Jesus Cristo, como símbolo do amor divino pelo qual Deus assumiu a natureza humana e deu a vida pelos homens
O renascimento da vida religiosa e a atividade de São Bernardo de Clairvaux no século XII, bem como o entusiasmo dos cruzados que regressavam da Terra Santa, deram origem a uma devoção pela Paixão de Jesus Cristo e, em particular, através de práticas em honra das "Sagradas Chagas". São Bernardo enfatizava a caridade do coração de Cristo aos homens, deixando-se perfurar. O mais antigo hino conhecido expressando o Sagrado Coração, Summi regis cor aveto , foi escrito pelo Beato Arnulfo de Louvain (falecido em 1250) de Colônia.
Na França, as visões de Marguerite-Marie Alacoque acenderam a devoção, resultando, já no século seguinte, de sua aparição com Louis XVI e os contrarrevolucionários da Vendeia, onde o emblema do Sacré-Cœur surge como identidade católica profunda em combate contra as tentativas de demolição da Igreja na França. Um símbolo que se torna carregado junto às roupas, capas e camisas na região do peito, usado por homens e mulheres que advogaram a identidade dos traços eternos da Cristandade franco-latina.
Mais tarde, passadas as tempestades revolucionárias, os católicos e monárquicos franceses mobilizam-se para criar entre seu povo um sentimento de reparação e devoção nacional, o que levaria a uma grande campanha popular para a construção da Basílica du Sacré-Cœur de Montmartre em Paris.
A Sociedade de Saint-Vincent-de-Paul uniu a serviço da Igreja e dos mais pobres o mundo 'orleanista' com o mundo 'legitimista' em torno de um projeto de resgate nacional.
Desde a relação espiritual dos místicos com Deus à devoção nacional francesa, passando pela fundação de ordens e igrejas dedicadas ao Sagrado Coração, o Sacré-coeur se integra numa visão católica da história, identificado com o ideal de uma societas christiana, de um mundo sagrado, orientado espiritualmente para as coisas do alto. Tal mística católica, desde a França, inspirará toda uma geração de católicos monárquico-tradicionalistas que, como dizia Barrès, dedicaram suas vidas a 'lutar por grandes coisas, pelas maiores coisas'.
A história dos Santos na Igreja é também acessível pelos lugares sagrados que permanecem como centros de peregrinação e devoção, eternas presenças do divino na vida dos povos. A Basílica do Sagrado Coração em Montmartre é um desses lugares místicos de uma enorme e real magnanimidade.
O nome da colina de Montmartre vem de Mons Martis (Monte de Marte) e de Mons Martyrum (Monte dos Mártires). A igreja de Montmartre que substituiu os templos romanos foi erguida em homenagem aos santos mártires Saint Denis, Rustico e Eleutério decapitados na colina que possuem capelas no santurário, no local exato de suas execuções.
Na fachada da Basílica, aparece Cristo com a inscrição: Cor Jesu sacratissimum, tende piedade de nós. No interior há uma escultura representando São Luís IX brandindo a espada com uma das mãos e a coroa de espinhos de Cristo com a outra, à direita do Rei está Santa Joana d'Arc. Acima do altar, aparece São Miguel Arcanjo em toda sua magnificência.
Esta presença mística, invocada por franceses que vivenciavam uma consciência profunda acerca dos aspectos mais estrondosamente relevantes na história universal. A invocação que se torna um domínio da Nação, restaurando a voz intensa do Reino, que na língua francesa é precisamente o mesmo que domínio, Royaume. Um portal para a eternidade da Filha Primogênita da Igreja e a santidade que por esta realidade há de rogar e salvar.
A Basílica, fruto da caridade e dos esforços de milhares de católicos, tornou-se um símbolo por tudo o que representa. Aqueles que a construíram foram agraciados com imensa sabedoria e nossos inimigos nutrem por ela um imenso e satânico ódio. A República francesa chegou a confiscar o terreno da Igreja por diversas vezes.
Diversos escritores revolucionários de certas etnias minoritárias e comunistas (Steinlen, Willette, Sarcey e Zola) já pediram a demolição da Basílica. Mais recentemente, em 2017 setores de uma esquerda radical e jacobina fizeram uma campanha pela demolição.
Tanto a Devoção quanto sua representação física permanecem e permanecerão, animados pelo intenso espírito católico que sempre recordará aos pequenos devotos quem somos.


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