O Simbolismo de Glória do ‘Padrão’ e seu Resgate pela Ação Orleanista
- Frederic Montanha
- 20 de dez. de 2022
- 6 min de leitura
Atualizado: 26 de abr.
Sobre erigir marcos católicos no Brasil em memória e continuação da tradição brasileira aos padrões da presença e formação portuguesa.
Por Frederic Montanha
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Sentimos que o Brasil não mais pertence aos brasileiros. É um atribulado caos que governa a sociedade e os espíritos, com mão de ferro e arbítrio ignorante de qualquer ordenamento benigno. A única ordem existente é a disposição desse caos e a apática rotina dos maus empreendimentos, carcomendo e protuberando maledicências sobre o corpo da Nação.
É preciso reconquistar o Brasil, de norte a sul, das profundezas à superfície do edifício histórico nacional. É preciso reviver o sangue latino, católico e lusotropical que anima as veias da nossa civilização, desde o coração, como essência eterna do ser brasileiro. E, para tal empresa, prescinde-se a congregação das iniciativas em um todo unificado, orgânico e pulsante reavivamento das chamas essenciais da nossa Tradição.
É preciso restaurar instaurando uma pátria nova, desde o espírito até a realidade prática que nos cerca, para que o mundo que nos circunda não sufoque a vida em sua marcha de mecânica modernidade, mas seja vencido e arrastado para voltar seus lúgubres olhares para a maravilha transcendental que nos foi legada. Restaurar o senso de eternidade em nossa comunidade brasileira é uma disposição para consciências altivas e despertas para a dimensão integral do homem e sua presença nesta época. É uma missão civilizacional partilhada por uma nova irmandade de soldados da Fé e do Império. É, portanto, o propósito de nossa Ação.
Tornar-se um instrumento para o refazer do laço entre a eternidade no passado, a transcendência do momento presente e a eternidade que desponta para o futuro, eis o caminho destes jovens tradicionalistas que despontam em cada canto da latinidade. Reunimo-nos em torno da brasilidade, para agir segundo a tradição essencial de seus elementos primordiais. Desejamos a continuação da Latinidade na história e a superação desta era de trevas e escravidão para uma reedificação integral e comum, de verdadeira liberdade no seio da Cristandade. E somos assim, pois identificamos a virtude com a vocação de continuadores do mundo luso, pelo espírito luso, travando a instauração de um espírito superior de reconquista.
Isto é reconquistar a terra em que vivemos para o feudo sagrado de Cristo, isto é ser Miles Christi. É entronizar a contrarrevolução da ordem em nosso espírito, a mesma ordem superior que moveu os nossos avós, os cruzados do novo mundo. Inspiramos a vida que olha para o alto, para a virtude e para a glória de Deus, ao invés de olhar para baixo, para a mediocridade que aprisiona os homens no lamaçal do igualitarismo totalitário hipermoderno. Olhamos para os nossos melhores, para os santos e para os reis, conquistadores, sedentos por perder sua vida na terra para ganha-la nos céus. Incorpora-se em uma gênese de ação metapolítica, a Tradição criativa que originou as nações católicas, feitos visíveis pelas marcas espirituais e materiais que podemos verificar em nosso patrimônio histórico. Como assinalou Camões no canto V d’Os Lusíadas:
“Mui grandemente aqui nos alegramos Co a gente, e com as novas muito mais. Pelos sinais que neste rio achamos O nome lhe ficou dos Bons Sinais. Um padrão nesta terra alavancamos, Que, pera assinalar lugares tais, Trazia alguns; o nome tem do belo Guiador de Tobias a Gabelo.”
Os belos e multisseculares padrões portugueses, monumentos dos descobrimentos e da civilização de tão diversos e incontáveis territórios, demarcavam na terra firme e na história dos mares e das gentes, que algo de épico ecoaria tremendamente pelos séculos dos séculos. A superação da antiga musa que se calava para ceder lugar ao gênio lusitano:
“Julgas agora, Rei, se houve no mundo Gentes que tais caminhos cometessem? Crês tu que tanto Enéias e o facundo Ulisses pelo mundo se estendessem? Ousou algum a ver do mar profundo, Por mais versos que dele se escrevessem, Do que eu vi, a poder d'esforço e de arte, E do que inda hei-de ver, a oitava parte?”
Os padrões são marcos de vitória e espírito de graça em fé católica, são altos pilares de pedra com cruzes ao topo, simbolizando um marco temporal, firmado na terra e conexo ao simbolismo da cruz, eminência de pertença a Cristo e seu reino entre os homens, a Cristandade. Os cruzados marítimos do mediterrâneo latino, fidalgos, soldados e servos das mais altas ordens de cavalaria estabelecidas no mundo ibérico, registravam aqueles memoráveis momentos com olhos para o porvir, para as futuras gerações e, além de todo o significado grandioso, para estabelecer o poder real dos novos mundos, a serem ganhos para a cruz.
Desde o século XV, em promontórios e cabos ou na foz de grandes rios, os padrões portugueses delimitavam a presença, pelos brasões neles esculpidos, abaixo da cruz, como submissão da coroa dos reis ao detentor da coroa dos céus. Por toda a costa da África e continente adentro, através dos rios, D. João II, em sua política imperial de navegação africana, levada a cabo por Diogo Cão no Gabão, em Cabo Negro de Angola, em Namíbia e na foz do rio Congo. A épica jornada de cruzar o Cabo da Boa Esperança, liderada por Bartolomeu Dias, marcar-se-ia por um dos mais famosos padrões, no extremo sul-africano.
Um pouco mais tarde, no oeste do plano geoestratégico do nascente Império Luso, uma grande cruz era erguida, após a Primeira Missa em Porto Seguro em 1500. Um ano depois, naquela mesma Vera Cruz, um marco de pedra era erguido, o Marco de Touros, considerado pelos locais até hoje com toda a sacralidade que sua existência evoca, capaz de intermediar curas milagrosas pela fiel devoção. A presença portuguesa erigiu padrões em Cananéia, em Belém e diversos outros pontos da costa de sua América, indo também por toda a África, por Zaire, Moçambique e até a Ásia, pela Indonésia, Índia e Timor, pelas mãos de nomes como Henrique Leme, Pero da Covilhã, Vasco da Gama, Gonçalo Coelho, Jorge Álvares, entre tantos outros heróis.
Erguer é elevar, não apenas como sinônimo literal, mas como significado mais profundo de um ato em sua dimensão espiritual. Elevar o símbolo da cruz é dedicar-se ao sacrifício que ela representa, é consagrar a terra em que se realiza a comunhão e é uma poderosa invocação de Nosso Senhor Jesus Cristo, para que Ele dirija o destino de um povo. Em uma época em que a malícia corre solta no campo espiritual, liberta nas cidades, nos campos e nas águas, para inverter a vocação de nossa terra, nestes tempos em que se normaliza todo o tipo de imundície criada pelas potestades perversas, é aqui e agora que a reação da luz sobre as trevas deve principiar.
Reconquistar pela força do símbolo máximo da cruz é também chamar a comunidade para uma abertura ao sagrado, para uma integração em perfeita harmonia com a vida local de nossas paróquias e regiões interioranas. É redescobrir a devoção popular e ressignificar sua orientação para um plano comum em plena comunhão com a realidade da concepção integral da Cristandade.
O que uma vez foi descoberto, está absorvido para sempre na consolidação da identidade católica. É herança permanente do homem católico, e sobretudo, um dever permanente a ser marcado na alma pela tomada de consciência das raízes profundas que nos possibilitam tomar parte na maior força do universo, na transcendente aventura do espírito que é a missão cristã. Eis o significado da congregação de esforços almejada pelos jovens tradicionalistas da Ação Orleanista. É abraçar inteiramente este legado que hoje descobrimos, tal qual nossos heróis desbravadores estabeleceram legar. Um abraço fraternal que atinge eras passadas e destina-se à colheita dos melhores frutos para as futuras gerações, merecedoras de nossos esforços, do empenho de nosso sangue, do mais alto vigor de nossas almas em luta por um Brasil católico e inexpugnavelmente fortalecido em sua Tradição.
Queremos a cruz, queremos honrar nosso legítimo Rei, nosso Cristo e Senhor na companhia soberana de nossos príncipes católicos. Queremos bem o Brasil bem brasileiro e todo cheio de cruzeiros fincados na terra, de volta ao centro da vida social, todo cheio de cruzados da pátria terrena e do reino celestial.
É, pois, a Reconquista, a nossa vocação varonil.
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(Artigo sobre o projeto de erguer marcos católicos em locais públicos, pode fazer relação com as navegações e os marcos portugueses ao chegarem em novas terras)
Bela arte. Parabéns!!! Glória a Santíssima Trindade.