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A Ordem Social é Prioritária em relação à Liberdade

Por Jefferson Santos

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Imagem: The Coronation of Charlemagne


1880. Sociedade é um conjunto de pessoas ligadas de modo orgânico por um princípio de unidade que ultrapassa cada uma delas. Assembleia ao mesmo tempo visível e espiritual, uma sociedade perdura no tempo: assume o passado e prepara o futuro. Através dela, cada homem é constituído «herdeiro», recebe «talentos» que enriquecem a sua identidade e cujos frutos deve desenvolver (3). Com toda a razão, cada um é devedor de dedicação às comunidades de que faz parte e de respeito às autoridades encarregadas do bem comum. [Catecismo da Igreja Católica]

Logo, se é natural ao homem viver em sociedade de muitos, é necessário que haja, entre os homens, meios pelos quais o agrupamento seja governado. Se houvesse muitos homens e cada um cuidasse apenas do próprio interesse, dispersar-se-ia a multidão, quebrando-se, a menos que houvesse um responsável por cuidar do que pertence à comunidade. Da mesma maneira, corromper-se-ia o corpo de um homem ou de qualquer animal, se não existisse alguma potência reguladora comum, visando ao bem comum de todos os membros. Considerando isso, diz Salomão: "Onde não há governante, dissipar-se-á o povo" (Pv 11, 14). - São Tomás de Aquino

A liberdade é um fator subsidiário da vida social; é uma característica derivada da ordem social, mas não sua fonte; pois, a ordem social, por definição, consiste em restrições aos atos individuais, seja através de costumes, tabus, bodes expiatórios ou leis. Portanto, a ordem social é a fonte e a base da liberdade que possa existir, e não o contrário.


Onde não há ordem social, não há liberdade para fazer qualquer coisa além de lutar.


Esse é o Estado de Natureza hipotético valorizado analiticamente por Hobbes, Locke, Rousseau, seja para depreciá-lo ou valorizá-lo. Mas perceba que isso nunca realmente aconteceu, nem poderia acontecer: o homem sempre foi um animal social e não pode ser de outra forma. O aspecto mais básico da sociedade - ou seja, o sexo - consiste em restrições à liberdade individual; pois, o sexo é ou um acordo mútuo para aceitar as restrições do dever para com um amante, ou então, por meio do estupro, uma restrição total e completa sobre o outro. Se essas restrições surgem de dentro do agente social como a voz de sua consciência, ou de fora como as vozes dos outros o instigando a isso ou aquilo, não faz diferença.


O zero da ordem social, então, é o zero do sexo, ergo do homem.


O verdadeiro estado de natureza para o homem é um estado de ordem social altamente evoluída e definida. Sua liberdade de ação, então, sempre foi limitada pela ordem social; e essa ordem social é, de fato, a base de sua liberdade para optar por algo além do combate.


Sob as condições corretas de ordem social - ou seja, devidamente restrita e limitada - a liberdade retroalimenta essa ordem por meio de uma ampla e racional distribuição de autoridade inteligente entre a população. A autoridade distribuída aumenta significativamente a velocidade do processamento de informações, de tomada de decisão e de adaptação, facilitando a coordenação social de ações.


Sob condições defeituosas de ordem social, a liberdade retroalimenta a destruição dessa ordem.


Muitos autores erraram ao enfatizarem a liberdade ilimitada, principalmente os malditos liberais e seus chamados "pais fundadores". É um slogan que nunca pode ser realmente alcançado. Pois sempre há a ameaça de crime ou de guerra; de alguma quebra da ordem social. É por isso que existe a Lei e a Arte de Governar.


Sobre esse erro dos "pais fundadores", acredito que é compreensível historicamente.


Eles estavam reagindo contra um sistema monárquico que, começando aproximadamente com Filipe, o Belo, havia se desviado do poder real (e fiscal) do feudalismo que antes limitava. A opção por um governo por meio de uma burocracia nacional permanente de ministros, em vez de um conselho ocasional de homens nobres e independentes, desvinculou a monarquia - a libertou - de seu antigo fundamento em um sistema de poder distribuído baseado em armas baroniais e nas propriedades - ou seja, nas aldeias de famílias mais ou menos relacionadas - que eles defendiam contra todos os invasores. A monarquia então começou a perder sua lealdade à terra e às pessoas que viviam nela; às relações familiares que formam a base atômica de qualquer nação propriamente dita. Tornou-se tirânica. A Rebelião dos "fundadores" foi uma reação à depravação tirânica de políticos que se desvincularam do Bem comum. Mas, como minha vó fala: "jogaram fora o bebê junto com a água do banho", e é isso que as revoluções costumam fazer.


Agora, voltemos para realidade: temos ordem social. Não temos a liberdade buscada pelos "filhos da liberdade". Agora, quase todos estamos reduzidos a condições de servidão muito mais opressivas e degradantes do que as que tanto irritaram esses autores. Temos algo inferior, já que a liberdade mal restrita retroalimentou a desordem social. O mundo está de ponta cabeça.


Por termos nos afastado das restrições adequadas à liberdade, a cultura ocidental está presa em um ciclo vicioso, um circuito de retroalimentação positiva. Estamos cada vez mais livres para agir de maneiras que são incompatíveis com uma boa ordem social - que são objetivamente impróprias para a realidade - e estamos cada vez menos livres para agir de maneiras que são de fato compatíveis com uma boa ordem social e adequadas à realidade. Tal é a anarco-tirania. Quanto mais as coisas ficam loucas, mais nos apegamos a regras para ordenar a vida; mas se as regras que então empregamos são enlouquecidas pela nossa loucura, suas operações só podem nos enlouquecer ainda mais.


Coisas que não podem continuar para sempre não continuam. Circuitos de retroalimentação positiva sempre acabam falhando de alguma forma - ou então, apenas se desgastam lentamente devido ao atrito e calor da sobrecarga.


Isso parece ter começado a acontecer. Parece que entramos de repente em um período de liquefação social, no qual tudo está em jogo e sujeito a reinvenção. Conhecem aquela ideia estranha da Janela de Overton? se sim, saiba que ela foi desmontada cada vez mais no Ocidente. Ela está um pouco mais destruída a cada dia que passa. Os tabus e bodes expiatórios da correção política usados pelos guerreiros da justiça social parecem estar perdendo seu impacto. A cultura tradicional do Ocidente, que formou a base em costumes e tabus de suas evoluções formais, legais e burocráticas, se reafirmou com força e está repudiando os últimos anos de inovações liberais e progressistas.


Até as inovações dos últimos 300 anos estão agora sob escrutínio intenso.


A raiva, a depressão e o medo que estão explodindo na esquerda são manifestações psicológicas de sua percepção profunda de que a autoridade sagrada de seu culto desapareceu junto com sua credibilidade, e que seu poder social, portanto, diminui. Eles entendem que estão perdendo o Mandato do Céu e veem que correm o risco de se tornarem os excluídos, os bodes expiatórios.


Minha intuição pessoal é que o ciclo de retroalimentação positiva do progressismo anarco-tirânico ultrapassou o limiar de sustentabilidade com a determinação federal de que homens devem ser autorizados a usar banheiros de mulheres, o que implica tolerância à pedofilia. Pelo menos nos Estados Unidos, isso parece ter sido a redução ao absurdo prática da ideologia progressista. Na Europa, a invasão muçulmana exemplificada no estupro de Colônia parece ter sido a ocasião que desencadeou a cascata de preferências. Digo novamente, o mundo está de cabeça para baixo. Já não podemos mais tratar liberais e esquerdistas como opostos, eles são a desgraça, aquilo que tem de pior na humanidade.


Oremos pela Intercessão da Virgem Maria.


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